Um poeta não constrói casas,
não cultiva o campo,
não alimenta ninguém.
Para que servem poetas?
Poetas não madrugam,
não cuidam de crianças,
vivem em mundos estranhos.
Para que serve a poesia?
Poesia é coisa
de escritor preguiçoso,
se fosse bom
escreveria um conto,
se fosse melhor
escreveria um romance.
De médico,
louco
e poeta,
só é certo que
o primeiro é útil,
o segundo nunca erra,
o terceiro fala sozinho.
Poesia é coisa de ocasião,
não se compromete,
acredita que é bela,
crê que encanta,
quase sempre
é só um amontoado
de rimas.
Poesia não serve para nada,
mas como não serve a ninguém,
goza de uma liberdade promiscua,
de um certo talento rebelde,
de uma musicalidade inquietante
que surpreende tanto tolos
como sábios,
tanto imperadores
como plebeus,
capciosa,
irreverente,
intrusa
quando menos se espera,
revela uma paixão,
desperta um covarde,
começa uma guerra.