Crônicas do Vanderlei

O Cotidiano Moderno

Publicado em 30 de agosto de 2018, por Jan Parellada
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Todo dia ele faz tudo sempre igual

Mal acorda e já pega o celular

Lê os títulos e resumos do jornal

E se sente instruído pra opinar

 

Todo ano nessa época eu já sei o que vem

O eterno retorno das mesmas memes do Enem

E no horizonte eu já prevejo um mau sinal

Das correntes e mensagens positivas de Natal

 

Todo ano é um eterno se envolver

Com uma causa bem distante de você

Isso sem ter tido tempo de entender

A recente treta entre o Halloween e o Saci-Pererê

 

O toca-discos da eleição roda um som sem novidade

Não se discute mais ideias ou propostas pra cidade

É sempre o velho disco maniqueísta de dois lados:

Lado A) Santo Guerreiro  Lado B: Dragão da Maldade

 

Todo mês de outubro voltamos a ser lúdicos

Trocando foto de adulto por de criança no facebook

Um raro momento de leveza e bom-humor

Seguido da certeza de que o tempo não é bom escultor.

 

A cada ano ela finge tudo sempre igual

Avisa que fez uma limpeza no face  e só sobrou amigo legal

Você se sente relevante e importante

Para um desconhecido que você nunca viu antes

 

Todo ano ele faz tudo igual

Troca amigo real por virtual

Amigo bom é amigo que sempre curte

Amigo real não só concorda e ainda discute?

 

Todo momento ela dá uma olhada

Quantas curtidas já teve a foto postada

O mar azul inteiro ali na sua frente

E você dependente da curtida do cara no expediente

 

Todo dia ela reclama que as mensagens só aumentam

Mas de grupos do WhatsApp tem mais de cinquenta

Instagram, Messenger, Skype –  eta mundo chato

Mas já perguntou pra sobrinha como entrar no Snapchat.

 

Todo ano aceita o desafio da foto de cara lavada

Para ilustrar sua bondade e desapego à vaidade

Mas não se viu campanha para postar recibo de doação para caridade

Mostrando quem realmente se importa de verdade

 

Todo ano ele chora e promete dizer não

Que será seu último post e vai parar com o textão

Mas não passam duas semanas e um dia

E volta com aqueles textos longos de nos dar taquicardia

 

Todo anos eu recebo felicitações de aniversário

Mesmo passados quinze anos de sua morte

Não tem nada de sobrenatural ou enigmático

São mensagens deixadas num aplicativo automático

 

Todo ano é repetitivo e sempre igual

A vida anda em círculos e cada vez mais rápida

Tenho a impressão que alguém puxou a descarga

E estou descendo rodopiando junto com a parada

 

Esse é nosso cotidiano moderno

Onde tudo se repete num círculo eterno

Não ficar enjoado é sabedoria e arte

Sobreviver com humor é escolha de sua parte

 

Todo ser humano é sempre igual

Criaturas do hábito e do ritual

Andar em círculos parece ser nosso forte

Justamente para nos distrair do caminho reto que nos leva a… o norte.

 

Vanderlei Machado Vieira

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